Nem toda a gente está preparada psicologicamente para abandonar a cidade os seus pertences.
Para estes grupos, que se manterão na cidade, será então necessário ter algumas noções de sobrevivência urbana.
Gostava de salientar que esta é a minha visão do tema, havendo outras tão válidas como a descrita neste artigo. O mesmo não pretende ser um guia exaustivo, apenas alertar para a problemática e dar dicas importantes que poderão fazer a diferença. Estas dicas são válidas para qualquer tipo de catástrofe que altere radicalmente o cenário e a rotina a que estamos habituados, de origem natural, económica ou outras
AS RAZÕES PARA SE PREPARAR
Acha que estar preparado para uma eventualidade é coisa de filmes? Ou porque vive num país de “brandos costumes” não necessitará de o fazer? Pois pense de novo.
Os “brandos costumes” do nosso país não o tornam imune ao descalabro económico que vivemos, às tensões religiosas entre povos, à nova “guerra fria” a que assistimos entre o Ocidente e o Oriente e muito menos às recentes notícias vindas do espaço: segundo a NASA, o ano de 2013 será extremamente perigoso devido a grandes explosões e tempestades solares, que poderão fazer colapsar a rede elétrica.
Sabendo nós que os computadores controlam praticamente tudo hoje em dia e que os mesmos precisam de eletricidade para funcionar, já pensou na tragédia que podemos ter à espreita? O Senado dos E.U.A. elaborou recentemente um documento em que chama a atenção da população para a necessidade de se preparar para este tipo de situações, nomeadamente para os efeitos das tempestades solares. No nosso país parece que as autoridades não estão preocupadas, aparentemente somos mais organizados e temos mais recursos do que os E.U.A.
OS FATORES PSICOLÓGICOS E SOCIAIS
A robustez psicológica, que tende a ser desvalorizado, tem um papel importantíssimo para sabermos lidar com uma situação como esta. Os escoteiros e campistas frequentes (por exemplo) habituados a viver por alguns dias sem as mordomias e os equipamentos modernos, terão uma vantagem psicológica sobre todos os outros que não dispensam tudo aquilo que necessita de eletricidade para funcionar.
Em termos sociais, no caso de uma catástrofe prolongada, esqueça as classes tal e qual como as conhece hoje: o dinheiro não serve para comer nem beber, deixando por isso de ter valor. Prepare-se antes para trocar água por alimento, alimento por medicamentos, etc.
As regras de boa conduta que constituem a base da sociedade são um mero fator psicológico, facilmente esquecido quando surgir o pânico e o stress. A falta de comida e de água e a competição pelos mesmos irá quebrar a barreira ética entre o bem e o mal, uma vez que quase todos entrarão em “modo sobrevivência”.
COMO SE PREPARAR
Mesmo uma preparação mínima já lhe dará uma vantagem substancial sobre todos os outros, que estarão pouco sensibilizados para estas questões. Não necessita de um bunker, um armazém de comida e um arsenal de armas de guerra.
Para começar, precisa apenas das seguintes dicas:
Alimentação: Dos estudos que realizei sobre eventuais catástrofes, cheguei à conclusão que numa situação realmente grave deve ter comida em casa pelo menos para um mês. Mas não pense que é fazer as compras que faz normalmente para esse período de tempo e já está, pois esquecemo-nos de muitas coisas básicas. Você terá uma arca cheia de carne e sentir-se-á seguro, no entanto essa carne estará estragada em poucos dias assim que ficar sem eletricidade. Assim sendo, que comida deve escolher? Idealmente aquela que não necessite de refrigeração, com boa relação volume/valor nutricional (especialmente calórico), longo prazo de validade e não necessite de água nem de ser cozinhada. Não se esqueça que também existem vegetais enlatados, embora não tenham a quantidade de vitaminas e outros nutrientes importantes que os frescos têm. Uma forma de contornar este problema será aproveitar a água dos mesmos, bebendo-a se for necessário. Prove primeiro este tipo de produtos alimentares antes de comprar grandes quantidades, para não correr o risco de ficar um mês a comer produtos de que não gosta. Não se esqueça também de ter a maior variedade possível ou de ter em atenção se alguém do seu agregado familiar tem uma dieta especial. Deve fazer e manter um inventário desta comida atualizado (só ocupa algum tempo no inicio depois é fácil de gerir) e consumir pela ordem de prazo de validade, adicionando posteriormente a mesma quantidade daquela que consumir.
Água: É tão importante que merece estar destacada da alimentação em geral. O ser humano, dependendo de vários fatores, aguentará em média 3 dias sem água. Deverá ter 1,5 litros de água por pessoa e por dia só para hidratação. A partir do momento em que a rede elétrica entre em colapso, não confie na água da rede pública, pois o seu tratamento está muitas vezes automatizado e pode deixar de ser realizado. No entanto aproveite para armazenar o máximo que possa para higiene, por exemplo enchendo uma banheira com a mesma, porque ela não vai durar muito tempo. O stock de água engarrafada deve ir sendo consumido mesmo que não exista nenhuma calamidade, para promover a rotatividade e não deixar acabar os prazos de validade. Cada vez que for às compras, reponha o stock em falta. Identifique locais com água nos arredores (lagos, poços, etc.) e tenha sempre maneira de a desinfetar (por exemplo com pastilhas purificadoras), não vá a situação manter-se quando esgotar o seu stock.
Ferramentas e equipamento: A falta de luz em casa causa-nos enormes transtornos mesmo sendo de pouca duração. Imagine um mês sem luz. Tenha sempre reserva de pilhas adequadas para as lanternas que tiver (de preferência LED, que são mais económicas), mas se puder tenha um carregador solar e pilhas recarregáveis. É importantíssimo ter duas ou três lanternas de dínamo, pois mesmo que acabem totalmente as pilhas, vai ter sempre luz garantida. Também é boa ideia ter lanternas frontais de colocar na cabeça, que dão muito jeito para ter ambas as mãos livres para qualquer tarefa que necessite realizar. Mantenha um kit com as ferramentas essenciais, um multifunções, uma corda resistente, cordel ou similar, fita-cola larga e de boa qualidade, meios de fazer fogo e aprenda alguns nós úteis. Se possível tenha um fogão portátil com algumas botijas de gás para o mesmo, porque de vez em quando uma refeição quente é bom para o moral. Algo que parece menos importante, mas que a médio prazo fará a diferença é ter algum tipo de entretenimento, como por exemplo jogos de tabuleiro tipo Monopólio, que também levantará o moral e ajudará a passar o tempo.
Higiene e saúde: Mantenha um kit de primeiros socorros o melhor equipado possível, tendo o cuidado de verificar periodicamente as datas de validade. Em termos de medicamentos o mesmo deve conter no mínimo Ibuprofeno (que é um 3 em 1: Anti-pirético, anti-inflamatório e analgésico) e antibióticos de largo espectro. Não se esqueça de ter um stock adequado de medicamentos que use com alguma regularidade ou que tome diariamente para doenças crónicas. Tenha sempre pacotes de toalhitas e bastante álcool, pois à falta de água ajudam a manter uma higiene aceitável, servindo o álcool não só para desinfetar o corpo e utensílios, mas também como combustível, se necessário. Por estranho que lhe pareça, guarde em sítio seguro uma forma de exterminar ratos, baratas e afins. Numa situação extrema a recolha de lixo não funcionará e as condições degradar-se-ão de tal maneira que começam a aparecer este tipo de animais, que podem ser extremamente perigosos: a sua urina transmite Leptospirose aos humanos (uma infecção bacteriana que pode ser fatal) e a sua dentada pode transmitir tétano, raiva e outras doenças.
Proteção e segurança: Como referi acima, o pânico e o stress poderão alterar a forma como as pessoas reagem normalmente. Prepare-se em casos mais extremos para tentativas de roubos e pilhagens na sua própria casa. Esteja atento, porque estas pessoas não aparecerão em blusões de cabedal e montadas em motos ruidosas como nos filmes. Esta pessoa pode ser o seu vizinho do lado, que atingiu uma situação de desespero. A nossa legislação em termos de armas é muito restritiva, por isso não vamos abordar este aspeto, mas deve usar o bom senso e a imaginação para defender os seus bens e a sua família. Provavelmente será bom começar a cumprimentar e a ser simpático para os seus vizinhos, porque em situações extremas uma pequena comunidade obtém melhores resultados do que as pessoas ou famílias isoladas.
CONCLUSÃO
De certeza já ouviu o ditado “não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Deve pensar seriamente nestas questões e começar a preparar-se assim que possível, antes que seja tarde demais. Não tenha dúvidas que apenas ao seguir as dicas deste artigo passará muito menos dificuldades do que a restante população.
Informe-se, procure formação, mantenha livros em casa sobre este assunto e imprima tudo o que tenha importância extrema, pois provavelmente não poderá consultar o computador nem a internet.
Para terminar lembre-se que tudo isto não é um estilo de vida de alguns loucos mas sim uma necessidade… e uma necessidade cada vez mais atual. Sobreviver não é uma questão de sorte mas sim uma questão de preparação.
Por Luis Varela
Encontra este artigo na Revista Outdoor!